Na minha experiência na área das Competências Parentais tenho percebido, na prática, que cada pai e cada mãe é completamente diferente de qualquer outro. Se por um lado, é assim muito difícil estabelecer leis que possam ser um ponto de partida universal para o trabalho com pessoas com filhos, por outro, a diversidade e a peculiaridade da história de cada um torna a experiência um desafio constantemente surpreendente.
Como psicóloga clínica, é difícil responder à pergunta «Quando se deve levar um filho ao psicólogo?» porque há demasiadas variáveis a ter em conta. Mesmo quando os pais decidem levar o seu filho ou irem eles mesmos procurar ajuda para ajudar os filhos, nem sempre, entre o casal há concordância quanto a acharem mesmo necessário fazê-lo. Quando ambos os membros do casal vão à consulta pode acontecer que um deles esteja de facto preocupado com uma questão que o outro desvaloriza. Por exemplo, se a criança faz repetidamente xixi na cama durante muito tempo, pode acontecer que um dos seus pais relativize a questão contando que ele mesmo, enquanto criança, também o fez até muito tarde. Nestes casos, o que se passou connosco pode não ser um bom medidor porque o que para nós, quando éramos mais novos, pode não ter sido um motivo de preocupação ou sofrimento, pode sê-lo no caso dos nossos filhos. Cada um de nós tem crenças enraizadas que condicionam a nossa opinião quando a questão de levar ou não levar o filho ao psicólogo. Noutro exemplo, quando a criança é demasiado inquieta, ou malcriada, ou desafiadora, também pode acontecer que um deles considere que «isso faz parte de ser criança».
Antes mesmo de termos filhos, cada um de nós tem expectativas em relação ao que é ser criança, isso nem sempre é evidente nas nossas atitudes mais conscientes mas reflecte-se no que esperamos do nosso filho depois de nascer e, posteriormente, irá reflectir-se no que os nossos filhos vão ser porque as crianças gostam de agradar os seus pais e procuram corresponder às suas expectativas (positivas ou negativas). Estas crenças interiorizadas que fazem parte de cada um de nós, vem da forma como fomos educados, do ambiente em que vivemos, etc. Seria uma inverdade dizer que quem está errado são os pais que desvalorizam porque não se pode ignorar o tipo de interacção que criança e a sua personalidade têm com a atitude dos pais. Por exemplo, se ambos os pais acreditam que a criança é irrequieta e que isso passa com a idade, acontece que às vezes passa mesmo! Isto porque quando, efectivamente a criança for mais crescida, as convicções dos pais ditar-lhes-ão que a partir de certa idade já não terão mais tolerância para a sua irrequietude e de acordo com isso tomarão medidas convictas para a deter. E a criança passará assim a agir com mais auto-controlo e serenidade porque deixará de ter a margem que tinha para não o ser.
Muitas vezes também acontece que apesar dos pais acharem que talvez fosse bom procurar ajuda, não o fazem porque não querem assumir que é preciso e acreditam que se o fizerem o problema ficará mais real. Acreditem, é melhor fazerem-no. Às vezes até pode nem ser nada de especial, mas é um alívio saber que estamos a resolver o que nos preocupa e não se esqueçam, um problema disfarçado tem tendência a ampliar.
Marta Gautier