A ideia de que ser mãe é algo intuitivo e acontece instantaneamente desde o momento em que se recebe a notícia que se está grávida, é um pré-conceito que após o parto pode causar alguma angústia às mulheres que, demoram o seu tempo a sentirem “aquela” tão falada ligação entre mãe e filho.
Na sociedade, e apesar das diferentes culturas, o papel materno está muito enraizado na ideia que cada mulher é dotada para ser mãe e que naturalmente se responde às necessidades do bebé e se ama incondicionalmente.
Ao longo dos nove meses, com esta ideia marcada de que para activar este instinto materno, basta ser-se mãe, muitas expectativas vão sendo criadas e um turbilhão de sentimentos invade cada mulher num misto de grande felicidade e alguma ansiedade pelo momento em que podem ter o seu bebé nos braços.
No entanto, a realidade é bastante diferente. Por um lado, o período da gravidez é rico em grandes mudanças, tanto ao nível físico e hormonal da mulher, como das dinâmicas relacionais que estabelece ou mantém com companheiro ou seio familiar. Durante esta altura, os medos de que algo possa correr mal, e a ansiedade de garantir que se cuida o melhor, desde logo, da criança que aí vem, torna esta fase por vezes bastante intensa. A forma como a mulher vai gerindo cada etapa vai ajudar a prepará-la para quando der à luz o seu filho. No entanto, da idealização que se cria na mente de cada mulher, ao impacto de quando se vê e se pega nos braços o próprio bebé, vai um longo caminho de emoções na sua maioria indiscritíveis.
Se por um lado, automaticamente se pode sentir um preenchimento interior, um encher de felicidade, quase um ter cá fora um pedaço de si… por outro lado, por vezes a angústia de não se sentir logo tudo isto pode deixar a mãe com sentimentos de culpa e de incompetência que poderá tornar toda a adaptação entre mãe-bebé mais difícil.
Seja num caso ou no outro, a aprendizagem da relação mãe-bebé vai ocorrendo à medida que os dias vão passando e a mãe vai dando resposta às necessidades básicas da criança (seja alimentação, do sono, do colo, do afecto, da higiene…).
O tão chamado instinto materno, com o qual todas as mulheres pensam nascer, trata-se apenas de uma das partes da relação mãe bebé. Responder às necessidades básicas de sobrevivência é um aspecto que se vai aprendendo e desenvolvendo à medida que se vai conhecendo o bebé e se vai compreendendo o seu choro, a sua calma ou irrequietude. Por outro lado, o amor de mãe, a ligação forte e inquebrável que também se idealiza que se sente logo, vai sendo construído na partilha de cada momento entre mãe-bebé. Mesmo o amor por um filho, apesar de para algumas pessoas surgir mais rápido e parecer que sempre esteve lá, será sempre alimentado num cuidar e num amar diário que permitirá fortalecer a relação e o vínculo que se irá prolongar o resto da vida.
Desta forma, percebemos que tanto o instinto como o amor de mãe, que para algumas pessoas parece existir logo, não tem de acontecer sempre. E quando não acontece, isso não significa que estamos perante más mães ou más mulheres. Apenas implica que a aprendizagem seja mais completa ao longo do tempo. Não é a existência ou não de uma ligação desde o primeiro momento em que se olha para um filho, que vai determinar uma melhor ou pior relação, ou um maior ou menor amor, ou um melhor ou pior cuidar.
Cada bebé é único, cada mãe é única, e cada relação mãe-bebé é especial e individual. É impossível comparar relações, sendo o sentimento após o nascimento de cada filho (no caso de mulheres que já vão no segundo ou terceiro filho) diferente e a relação que se vai criar, o laço, o amor que se vai construir será também diferente.
O mais importante é que a mulher / mãe que não sente logo esta conexão com o seu bebé, não se julgue nem se critique, e apenas olhe para a nova relação como um desafio onde os dois vão crescer muito e vão aprender muito na partilha de cada momento, de cada interacção.
Ser mãe é mais do que carregar um bebé dentro de si durante nove meses, ter um instinto maternal apurado ou sentir uma ligação imediata com o seu bebé. Ser mãe e amar um filho é construir uma relação forte, segura, com cuidados, com limites, com valores, onde é possível educar a criança valorizando o seu esforço em fazer e aprender, onde o tentar é valorizado, onde as conquistas são celebradas, onde as dificuldades não são esquecidas mas vistas como desafios a ultrapassar…
Ser mãe é começar por pegar ao colo, depois caminhar de mão dada, em seguida lado a lado e por fim, caminhar por perto relembrando que estará sempre lá de braços abertos para celebrar, para apoiar e para amar incondicionalmente!