Nos dias de hoje a opção dos pais por colocar os seus filhos pequenos em creche é uma realidade cada vez mais comum. Este contexto educativo carrega em si várias características que o tornam único pela importância que tem no desenvolvimento da criança.
A especificidade da creche caracteriza-se pela idade das crianças que a frequentam, desde os quatro meses até aos três anos de idade. Esta fase da vida da criança é crucial no seu desenvolvimento, pois é nesta etapa que o desenvolvimento ocorrerá com maior velocidade comparativamente com qualquer outra fase da nossa vida. O contexto educativo da creche é um espaço único pois deverá estar «preparado» para receber crianças dependentes, com ritmos e rotinas específicas, como também acompanhar e fazer equipa com os pais destas crianças. Não podemos esquecer que os contextos educativos são para dar resposta às crianças e mas também às suas famílias.
O trabalho a realizar entre a creche e a família começa no primeiro momento em que pela primeira vez os pais visitam a creche onde poderão deixar o seu filho. É de extrema importância a pessoa que faz esta primeira apresentação e explica de que forma quer os bebés, como se organiza a rotina e qual o enfoque do trabalho pedagógico que vai ser efetuado, mas também explicar como recebem os pais no dia-a-dia, que tipo de relação irão construir e de que forma poderão colaborar entre si.
O trabalho da equipa da sala de creche passa por estabelecer uma relação com a criança com o objetivo de a confortar, de lhe proporcionar o seu bem-estar ao mesmo que também constrói a relação com a família com o objetivo de confortar, dar-lhes segurança e explicar (quantas vezes forem necessárias) o trabalho que vão desenvolver com o seu filho. A expressão «quantas vezes for necessário» aparece pois muitas vezes tecemos ideias sobre as famílias devido aos seus comportamentos/ações, no entanto é importante estar do outro lado e compreender que aquilo para nós é óbvio, assim o é devido à experiência que temos sobre o que fazemos. Mas, para o pai, a mãe, a avó poderá não ser óbvio e dessa forma, os profissionais de educação tem a função e o dever se explicar e acompanhar a família no seu percurso, nas suas dúvidas e inquietações.
A creche é uma extensão de família, se assim acreditamos a melhor forma é colocar esta premissa em prática. Para fazê-lo, podemos enumerar várias ações que concretizam esta ideia, como: respeitar o ritmo e hábitos da criança (num berçário as diferentes crianças podem cada uma ter um horário de almoço e repouso diferentes. Sim, isto é real e por isso estas salas não são tão calmas como aparentemente possam parecer ao pais, por os seus filhos serem bebés de colo. No que se refere à autonomia nem todas as crianças irão tirar as fraldas ao mesmo tempo, por isso o ritmo de cada criança é respeitado. Para que isto possa ser real e verdadeiro só quando se trabalha para construir uma relação de parceria entre a creche e a família, é possível respeitar ritmos e acima de tudo compreender o outro lado, a família com as suas dinâmicas e opções.
Por certo, a este ponto da leitura podem considerar que poderá ser difícil respeitar ritmos… mas não posso abrir mão da especificidade que caracteriza este contexto educativo, pois este é um dos pontos, para se construir um trabalho visando a qualidade de prestação de serviços quer à criança, como à sua família. Ainda nesta relação surge por vezes uma «luta de poderes», pois a equipa formada entre a família e a creche não conseguem estabelecer os limites desta relação, ou seja, até onde o poder de um pode ir como do outro também. Acontece que os profissionais de educação de infância considerarem que a relação vai sendo estabelecida e que a família vai-se «intrometendo». Em Portugal, ainda não temos de forma generalizada, mas já existem muitas práticas que revelam esta dinâmica efetivamente implementada entre equipa pedagógica e a família.
Por vezes ainda existem, como prática educativas, os padrões estandardizados de que as famílias é que têm que se organizar à forma como a creche está organizadas. Mas, gradualmente e com experiências em vários países do mundo a comprovar outras dinâmicas de interação, outras dinâmicas de trabalho entre a creche e a família, começamos a querer também compreender que a creche é um tempo de ouro, privilegiada na ligação com a família. As preocupações inerentes prendem-se com a especificidade da dependência da criança, podemos considerar que a creche é uma «invenção» recente das sociedades modernas.
Começar a frequentar a creche desde os quatro meses para as crianças e para os pais, vai ser a primeira experiência e a que iniciará a relação entre a família e o contexto educativo, pois ao longo da vida a criança irá frequentar diversos contextos educativos, mas terá sempre a mesma família. Daí ser fundamental que esta experiência seja caracteriza por experiências construtivas, do ponto de vista do interesse e valor atribuído às famílias como também à criança. Não podendo esquecer que as mesmas servirão como modelo nas seguintes etapas.
Para as equipas educativas de creche
1. Às vezes os pais/família vão dizer coisas incoerentes. Tenham calma, os pais estão a ver sob o seu ponto de vista de pais. Não leve a peito. Tente compreender.
2. Muitas vezes os profissionais trabalham muito, esforçam-se
e parece que os pais pouco valorizam. Continuem a fazer um trabalho de qualidade pois estão a fazer o caminho de informar/trabalhar com qualidade, e os pais não têm a mesma informação e experiência. Por isso continuem a insistir, a fazer para conseguirem passar a vossa mensagem.
3. Não considere que trabalho com a família é ir comprar castanhas, fazer a atividade do dia da mãe ou do pai. Mas, sim envolver a família no trabalho que está a ser feito com o seu filho, no trabalho que fazem na sala (como se organizam, o que registam, porque registam). Justificar e passar a mensagem pedagógica sobre o que fazemos, como fazemos e porque o fazemos e estaremos a fazer dois trabalhos a ajuda a «crescer» bebé/crianças pequenas e a formar pais com informação pedagógica sobre o contexto que o seu filho frequenta.
Para os pais:
1. Muitas vezes parece que só exigem coisas aos pais. Tenham calma, pois apenas vos querem envolver (não tem de ser um às na expressão plástica, mas acima de tudo participem, mas tarde vão guardar essa fase com carinho).
2. Não desvalorize o contexto de creche dizendo que durante o dia as crianças comem e dormem. Aprenda a interpretar o trabalho pedagógico que é realizado. Sabia que há técnicas para os profissionais mudarem as fraldas? E que existem poucas crianças na sala para que possa ser dada uma atenção mais individualizada?
3. Participe, pergunte e envolva-se. São três palavras de ordem. Só assim poderá compreender o valor a curto, médio e longo prazo sobre o que pode ter de benéfico na vida do seu filho. E seja exigente, pois espaço e pessoas caraterizam as experiência que temos ao logo da nossa vida. Correto? São as experiências que nos fazem construir a realidade e a pessoa que somos, e nós queremos sempre o melhor para os nossos filhos
Ana Rita Correia
Texto final Publicado na revista Pais e Filhos